sábado, 24 de abril de 2010

Pablo Neruda - Soneto XC

PENSEI morrer, senti de perto o frio,

e de quanto vivi só a ti deixava:

tua boca eram meu dia e minha noite terrestres

e tua pele a república fundada por 
meus beijos.



Nesse instante terminaram os livros,

a amizade, os tesouros sem trégua acumulados,

a casa 
transparente que tu e eu construímos:

tudo deixou de ser, menos teus olhos.



Porque o amor, enquanto a vida nos acossa,

é simplesmente uma onda alta sobre as ondas,

mas ai quando a morte vem tocar a porta



há teu olhar apenas para tanto vazio,

só tua claridade para não seguir sendo,

só teu amor para fechar a sombra.






Do livro "Cem sonetos de Amor"







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